domingo, 20 de dezembro de 2009

O ritual do biquíni branco (II)

Ângela significa anjo, mensageira. Naquele momento, no entanto, eu ainda não sabia que o seu nome deveria se chamar Lúcifer, o diabo de biquíni branco. Parecia uma miragem à minha vista quando ela resolveu sair da água. Os cabelos longos estavam molhados. No seu corpo escorria a água salgada do mar. Discreta, ela logo se enrolou em uma toalha na tentativa de esconder o seu corpo perfeito. Não conseguiu nos meus pensamentos. Eu já havia gravado aquele que seria o meu mais prazeroso pesadelo.

Havia pouco mais de um ano que eu morava neste prédio. Há cerca de dois meses, pude subir no elevador com Ângela. Ainda não sabia o seu nome. Mas, claro, fiquei impressionado pela sua feição. As curvas que estufavam a calça apertada não me deixaram prender uma olhada quase que obrigatória. Dei boa noite. Ela, educada, respondeu com simpatia. Era uma voz normal. Nem me lembro exatamente se doce, aguda ou mesmo grave. Foram as nossas únicas trocas de palavras até então.

Era uma sexta-feira quando eu a vi no mar pela primeira vez. Foi inevitável cair da cama no dia seguinte para tentar revê-la. Nada. No domingo, eu que chegava de uma festa quase ao amanhecer, não me importei em esperar mais um pouco e constatar que ela não estava lá de novo. Porém, na segunda-feira, quando eu já estava quase desistindo dessa loucura... sim. Lá estava Ângela com o mesmo biquíni branco. Na água. Era impossível não esperar que ela saísse. A transparência do traje em contato com a água era quase que um alimento indispensável para meus pensamentos libidinosos.

Fiquei viciado em assistir ao programa que era quase uma reprise diária. Ângela na água. Mergulhando pelo mesmo tempo, como em uma sincronia. Com o mesmo biquíni. Semitransparente. Cobrindo-se ao sair da água. E voltando discretamente para o prédio. Ah, isso de segunda à sexta. Matando-me! Mistério danado. Eu nunca neguei que era meio curioso. Após uma semana estudando seus movimentos comecei a tomar coragem para falar com ela. Ou ir à praia. Sei lá. Eu precisava fazer alguma coisa. Ela não ia saber que eu estava lá por causa dela.

Eu fui. Minha barriga estava mais gelada que a água naquele dia. Aliás, eu não sei como Ângela tinha coragem de se jogar naquele mar gelado ma manhã. Devia ser promessa, só pode. Mas enfim. Eu fui e fiquei lá como um babaca. Tentei me alongar. Fiz que sabia o que estava fazendo. Respirava fundo olhando para o mar, como quem estivesse concentrado na natureza. Na verdade, eu até estava de olho na natureza, na paisagem... de Ângela. Naquele dia eu, finalmente, iria descobrir porque o seu nome não remetia a um anjo do bem. Tomei coragem. Esperei ela sair da água, com todo o idêntico ritual. Respirei fundo novamente. Fui em direção a Ângela...

Em breve, o terceiro post e o fim dessa história.

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